Quem chega a Loivos apercebe-se logo que Loivos não é uma aldeia qualquer. Aproveitou o início da encosta da montanha para se instalar deixando todo um rico vale para cultivo. Ainda hoje assim é. Claro que a aldeia cresceu e saiu do seu núcleo histórico, sobretudo ao longo da estrada, com um pequeno aglomerado na saída para Vidago.
Não conheço muito da história da aldeia, mas dá para notar que além da sua riqueza agrícola e também florestal, Loivos teve a sua importância comercial e até industrial (ainda por lá para a inscrição de um lagar de azeite, por exemplo). Ainda hoje há alguns comércios, e ainda hoje há gente e ainda hoje há crianças, escola e muitos jovens. Ainda há vida em Loivos. Claro que a aldeia sofre dos males das restantes aldeias, o da desertificação e o do abandono das construções mais antigas, mas nem tanto como se passa no resto ou na grande maioria das aldeias do concelho.
Mas passando este pequeno intróito, vamos até Loivos.
Loivos é sede de freguesia à qual pertence ainda a aldeia do Seixo. Fica a
Como já referi, a freguesia é predominantemente agrícola e de grande importância pela fecundidade do seu solo, que com produtos variados, legumes, cebola, frutas, azeite, cereais, vinho e batata, continua a abastecer os mercados limítrofes.
Quanto à sua história, também tem a sua importância, pois a dominar a povoação, a nordeste, ergue se o monte do Crasto, que conserva restos de muralhas Proto-Históricas com ocupação de povoado. O Castro de Loivos/Castro Muradal cujo povoado era defendido por duas linhas de muralha, definindo um recinto com um contorno elipsoidal com uma exntensão de 130m (N-S) por 70 m (E-O). As duas muralhas ainda conservam em alguns panos uma espessura de 2,5m chegando a tingir 3m de altura e envolvem o ponto mais alto do monte e, prolonga-se de forma alongada e descendente para Sul, acompanhando o declive do terreno.
Pese a importância que estes restos de muralha possam ter e até estejam referenciadas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, mais nenhuma referencia encontrei. Ou seja, existem, mas é como se não existissem. Claro que a aldeia não tem culpa, pois os culpados são os do costume, para os quais a História e os seus “restos”, a cultura e as tradições dos povos não existem. Ponha-se o nome aos culpados: Estado e os seus tentáculos dependentes, como as Direcções-Gerais, Comissões de Turismo e as próprias autarquias ou poder local. Desculpem-me, mas tinha de fazer este aparte.
Continuando ainda na História e segundo alguma documentação a que tive acesso, o povoamento de Loivos deverá ser bem mais antigo que ao do povoamento das muralhas, e a afirmação é atestada pelos inúmeros objectos pré históricos encontrados na envolvente da povoação (onde estão esses objectos, também não sei, nem nunca os vi).
Mas vamos voltar a Loivos actual e à sua rua principal ladeada de casas antigas, algumas delas em acentuada decadência, mas também com algumas reconstruções. Aqui faço outro aparte, pois como Loivos tem núcleo classificado pelo PDM, reconstruir em Loivos (núcleo) é mais caro que reconstruir noutra qualquer aldeia sem núcleo classificado, pois aqui são exigidos pelo menos dois técnicos para execução do projecto, pois a assinatura de um arquitecto é obrigatória (disse assinatura, não há engano). Pessoalmente nada tenho contra esta exigência do PDM, aliás até concordo com ela, mas tal como se passa no Centro Histórico de Chaves, também nos núcleos classificados acho que deveria haver incentivos (monetários) ou facilidades (a nível de projecto e custos de licenciamento) para quem reconstrói e preserva.
Mas íamos então na rua principal da aldeia, que nos conduz até à igreja paroquial, também classificada pelos Monumentos Nacionais como Igreja Matriz de Loivos, Igreja de Stª Bárbara ou Igreja de São Geraldo. Pelas datas inscritas em alguns componentes, como na torre sineira, nota-se que a igreja já foi reconstruída, renovada e até ampliada em diferentes datas. Embora os monumentos nacionais dêem como data provável da sua construção os Séculos XV ou XVI, no arco da porta a data inscrita é de 1381. Encontramos ainda outras datas por lá registadas, como a de 1820 e a de 1948, datas que correspondem concerteza às tais intervenções posteriores a da sua construção inicial.
O Orago é São Geraldo, no entanto a festa e cerimónias religiosas são em honra de Stª Bárbara e festeja-se anualmente em finais de Julho. Perguntei o porquê das cerimónias em honra de Stª Bárbara quando o orago é S. Geraldo e a resposta foi pronta:
- É que a Stª Bárbara protege-nos das trovoadas.
E bem pode, pois também são bem conhecidas as trovoadas de Loivos e vindas de lá. Um fenómeno que tem explicação científica, que até compreendi a tal explicação, mas não entendi muito bem.
Trovoadas e história à parte, vamos até à música
Banda Musical de Loivos, fundada em 1826. É assim que reza a placa colocada na sede da Associação. Ou seja (julgo) a Banda de Loivos é a mais antiga do concelho e já anda a dar música à população e ao povo há quase 200 anos. Tive a sorte de na minha deslocação à aldeia as instalações da Banda estarem abertas. Possuem umas instalações dignas, onde além de sede, ensinam música e ensaiam. Fiquei surpreendido com o número de jovens que estavam a ensaiar e a aprender música, o que me leva a crer, que vamos ter Banda Musical de Loivos por muitos mais anos, o que não será fácil. Ninguém mo disse, mas sei das dificuldades pelas quais as Bandas Musicais passam. Dificuldades por serem muitos, dificuldades por necessitarem de fardamento, dificuldades e despesas de deslocações, instrumentos e até concertos. Pois nas tradicionais festas cada vez mais os arraiais são animados por conjuntos musicais e quanto a concertos são raros. Embora a autarquia de Chaves de há uns anos para cá anime algumas noites de verão da cidade com concertos das bandas, os mesmos dias são divididos pelas bandas do concelho (6 bandas no total) e, se não tocam de borla, o subsídio que recebem, se calha, nem dá para as deslocações. Claro que mais uma vez é a carolice, o gosto e a tradição que manda.
Não podia ir até Loivos e este blog não falar e prestar devida homenagem à Banda Musical. Não só pelo seu historial e 200 anos de existência, mas também pela música que ensina, pelos concertos que oferece, pela animação de festas que faz, pelos jovens que chama até ela e também, esta é pessoal, pelas boleias que nos finais dos anos 70 me deu das Festas das aldeias até Chaves. Um bem-haja para a Banda Musical de Loivos, parabéns pela sua existência e obrigado por existirem. Já que as entidades (as tais de sempre) não olham e nada fazem por preservar esta riqueza cultural, musical e tradicional das aldeias, deixai-me a mim, em nome de todos (estou certo) demonstrar a nossa gratidão.
Quanto a imagens, tentei trazer aqui um bocadinho de Loivos. Claro que nas ruas do seu núcleo, cada casa, cada porta, janela ou pormenor, eram motivo de uma foto. Eram e foram. Pois registei mas de duas centenas de motivos. As limitações do blog só me permitem trazer aqui algumas imagens. Mas melhor mesmo que ver por aqui Loivos virtualmente, o melhor mesmo é ir até lá e apreciar com os próprios olhos.
E por hoje é tudo. Demorou a cumprir a promessa de Loivos e merecia muito mais, eu sei, mas ficamos pelo possível.
Pode ver mais em https://chaves.blogs.sapo.pt/253017.html.