Nuzedo, para defenir bem os traços desta localidade, nada como utilizar as palavras de quem a conhece e testemunha em suma as vivências das gentes que dela fazem parte, fazendo questão precisa das respectivas fontes.

É em Nuzedo, aldeia de Vila Pouca de Aguiar situada a norte da sede do concelho, que fica este antigo apeadeiro da linha do Corgo. A linha ligava Régua a Chaves, mas desde 1990 que os comboios não vão além de Vila Real. O desmantelamento da rede ferroviária nacional, a partir da década de 1980, foi quase completo em Trás-os-Montes, com o encurtamento ou fecho da linha do Douro e de todos os seus ramais (linhas do Tâmega, Corgo, Tua e Sabor). Não teria sido impossível fazer circular, nas mesmas linhas, comboios modernos que assegurassem tempos de viagem razoáveis, mas o investimento público, com excepção das linhas suburbanas de Lisboa e Porto e do mirífico TGV, há muito que abandonou a opção ferroviária. Percorreu-se um caminho sem regresso: arrancaram-se carris, e os edifícios e as velhas máquinas foram deixados ao abandono; não houve sequer a lucidez de aproveitar turisticamente esse património."

A menos de três quilómetros da sede do concelho, atravessada pela movimentada Estrada Nacional 2, nos seus arruamentos vive-se a placidez dos dias que passam, sempre iguais. Já ali não passa a linha férrea do Vale do Corgo, que lhe deu substância e movimento

Mas as marcas estão lá: o velho apeadeiro e, nos cruzamentos, ainda permanecem aquelas placas que pediam às pessoas que parassem, que escutassem e que olhassem.

A linha desapareceu. No seu lugar há um caminho que começou a ser feito, em direcção a Vila Pouca, porque transitar na Estrada Nacional é perigoso.

Mas o caminho não foi completado. Não chega à sede do concelho. Ficou-se "perto da casa do Rubens".

Um dos homens da aldeia já ouviu falar numa ciclovia, a ser construída pelos Municípios de Chaves, Vila Pouca de Aguiar e Vila Real, mas não crê que seja possível percorrê-la, no seu tempo de vida.

Esse mesmo homem não duvida: "a aldeia de Nuzedo é uma das mais abandonadas que Vila Pouca tem".

Chega-se a Nuzedo, a um largo, onde está implantada uma capela branca.

A capela está presa e acanhada num canto desse largo.

Mais aberto é o abrigo da paragem dos autocarros, que lhe fica em frente.

Simbolismo entre os desejos que os seus moradores têm: de percorrer caminhos, espiritual um, material o outro.

Apesar de passar, em Nuzedo, uma estrada movimentada, não é fácil fazer-se o trajecto que dali possa levar as gentes para outras direcções.

Dantes, era o comboio que trazia as novidades. Hoje, quem as quiser saber terá de sair. Mas a EN 2 é perigosa e a adaptação do antigo caminho de ferro não continuou. De tal modo que já roubaram a areia e as pedras que jaziam, a monte, no local aonde a via chegou. O autocarro e o táxi são as alternativas possíveis.

Naquele largo já se fez, em tempos, uma festa.

Quem passasse na estrada via, em certa ocasião do ano, na última semana de Julho, um grande mastro com uma bandeira no topo, anunciando os festejos que decorriam no domingo.

Mas quem a organizava, com muito empenho, já desapareceu. E a festa terminou.

Demais, celebrava-se a Senhora de Fátima mas o pároco sugeriu uma mudança: a padroeira de Nuzedo, consultando velhos documentos, é, afinal, Santa Bárbara.

Muita gente não aderiu a essa modificação e a festa nunca mais se fez.

Uma senhora, que estendia roupa num alpendre da sua casa, disse-nos que estão a pensar refazer a festa no próximo ano, através da mocidade nova que pode acarretar com o trabalho e com a despesa. Nem que seja uma festa pequena: procissão de velas, missa e um conjunto a animar a noite.

A aldeia tem muita gente, ainda. Nuzedo não terá sido a localidade que viu sair de lá, emigrando, a maior parte dos seus naturais. A Escola, por exemplo, é muito bonita e tem muita vitalidade.

Entre a pré e o 1.º Ciclo há quase três dezenas de crianças. Mas um pormenor ressalta: para irem até à Escola , as crianças têm que percorrer caminhos em mau estado e, especialmente, sem luz. Para além do perigo de a maior delas ter de atravessar a Estrada, há esse outro de, no Inverno ("às seis e meia da tarde já é noite!") andarem as crianças às escuras, por aqueles caminhos. Uma preocupação para os pais que procuram ir buscá-las lá, sempre que possível. Para que nenhum mal lhes aconteça.”

 Uma fonte de água que se estragou

 "Coisa óptima , em Nuzedo, é o saneamento" e disso se orgulham os seus habitantes.

A água também é abundante, embora a fonte, onde todos iam buscá-la, em baldes e cântaros, tenha, agora, uma chapa afixada, referindo que não é própria para consumo ("mesmo assim, há muita gente que continua a ir lá buscá-la e a utilizá-la para certos fins). A nascente está na encosta. ("este ano foi difícil mas a verdade é que a água, em Nuzedo, não falhou"). Pelo seguro, bebe-se essa, canalizada. Mas há quem tenha saudades de uma canequinha de água bebida ali, na fonte, de onde tanta água jorra, sem parar.

As pessoas que falaram connosco disseram-nos que ali "não há, praticamente, ninguém que tenha grandes carências económicas" mas queixam-se do estado sujo das suas ruas ("Nuzedo deve ser a terra mais suja do concelho"). E fazem questão de nos levar a percorrê-las, apontando para aqui e para ali. Relembram que, em tempos, a Junta de Freguesia teve lá um grupo de pessoas a limpar as ruas, especialmente livrando-as das ervas e das silvas: ("as ruas, nessa altura, estavam lindas e apetecia passar nelas. Mas foi sol de pouca dura"). Por isso, era necessário que a Câmara lá fosse, uma vez por mês, limpá-las. ("mesmo à volta da capela, as ervas são uma vergonha, para nós. Infelizmente, há aqui muita gente que ainda não se desabituou de deitar as coisas para o chão e se cada um limpasse as ervas ao pé de cada porta, as coisas podiam mudar para melhor").

A aldeia é constituída por vários bairros ("o Bairro da Capela, o Bairro das Escolas; o Bairro do Corta Milo"), um deles do lado nascente da estrada. Mas a maior parte da aldeia fica-lhe a poente. Mergulhada em terrenos aráveis, com árvores e planos de pasto para animais.

Apesar da origem do nome ("Nuzedo / Nucellum - Nozes) não vimos muitas nogueiras, por ali. Mas há árvores de fruto, em quantidade. Eiras e canastros atestam a importância do milho.

No fundo da aldeia mora a senhora Maria Lamas e o marido. São, já, idosos. Pois o sítio em que moram também não tem luz eléctrica, fazendo com que se dupliquem as dificuldades para o casal vir, sequer, ao centro da aldeia. ("já vieram cá ver, já fizeram promessas mas a verdade é que continua tudo na mesma. Há muitas coisas, ainda, para fazer aqui".).

Uma das senhoras que se juntou ao grupo que falou connosco chama a nossa atenção para o facto de Nuzedo ser uma aldeia "muito espalhada".

Outra (que nasceu em Vales mas que já há muitos anos ali vive porque de ali é o seu marido) diz-nos que gosta de viver em Nuzedo. É uma terra sossegada, pacata. Pena é não haver mais limpeza e que algumas coisas se estejam a estragar tanto. ("A água da fonte, é uma pena. Vinha gente de longe abastecer-se na nossa fonte").

Hoje, nisso, Nuzedo perdeu importância.

(Há ali um lavadouro para a roupa, veja bem como está, cheio de areia. É a corrente da água que a traz, pelos canos. O trabalho da canalização do ribeiro que aqui passa, não foi bem feito".